segunda-feira, junho 04, 2012

Entrevista- MPB4 [ DO TÚNEL DO TEMPO]


Aquiles por Belvedere Bruno




1- Conte-nos quando, e como, teve início o Grupo MPB 4.

Nós nos conhecemos no Centro Popular de Cultura (CPC) da UFF, em Niterói, em 1963. Nós quatro formávamos o Quarteto do CPC. Éramos um grupo grande de estudantes dispostos a fazer arte popular para, a partir dela, conscientizar o povo.

Tínhamos a utopia de que, se utilizássemos a linguagem popular, seria fácil fazermos com que o povo caminhasse com a gente rumo ao socialismo.

Veio o golpe de 64 e nossos sonhos de uma revolução popular socialista foi esmagado pela repressão que veio forte e desmantelou as entidades estudantis, os sindicatos dos trabalhadores e as Ligas Camponesas.

Foi quando o Quarteto do CPC, por motivos óbvios, já que a UNE havia até sido incendiada, nós nos rebatizamos como MPB4.

Até que, em julho de 1965, durante as férias escolares, nós viemos para São Paulo, onde depois de nos apresentar em vários programas de sucesso da TV, principalmente no O Fino da Bossa, de Elis Regina, Jair Rodrigues e Zimbo Trio, fomos convidados a ficar na capital paulista para darmos início a uma carreira musical profissional.

2- De onde surgiu a idéia do nome do Grupo?

Miltinho e Magro estudavam Engenharia na UFF e Miltinho organizava alguns shows de bossa nova, onde os dois, junto a outros três músicos, formaram um grupo instrumental a quem deram o nome de MPB5. Convém lembrar que esta, até aonde temos conhecimento, foi talvez a primeira vez em que a sigla MPB foi usada. Com a necessidade de dar um novo nome ao Quarteto do CPC (nome banido até por questões de segurança) e como o quinteto de bossa nova estava praticamente desativado, Miltinho e Magro sugeriram que nos chamássemos MPB4.

3- Nos anos sessenta, o Grupo aproximou-se de intelectuais e movimentos que resistiam à Ditadura. Como isso ocorreu? Quais as conseqüências positivas dessa aproximação?

Nossa formação musical vem deste momento efervescente, em que os CPCs tiveram atuação marcante. Para se ter uma idéia de como nós víamos vivíamos a música naquele período basta dizer que nos considerávamos militantes que cantavam.

Esta disposição, talvez tenha sido um dos fatores que propiciou a longevidade do grupo. Não tínhamos pretensão ao estrelato nem à fama, mas a fazer de nossa música uma forma de denunciar e protestar contra as arbitrariedades praticadas pela ditadura militar.
Mas se por um lado isto nos trouxe uma personalidade política e cidadã, por outro, a música ficou em um perigoso segundo plano. Em detrimento dela, colocávamos quase sempre as nossas idéias de militantes em primeiro lugar. Ou seja, o que ganhamos como conteúdo ideológico e político, perdemos ao não nos preocuparmos com o devido empenho com o qual deveríamos reverenciar a música.

4- Como conseguiam manter a criatividade em meio à repressão da Ditadura? Pode nos falar sobre as dificuldades que enfrentaram?

A censura e a repressão recrudesceram para valer a partir de 1968, com a decretação do AI-5. Tivemos problemas enormes com a censura. Diversos shows nossos foram proibidos (alguns na íntegra, uma semana depois de estreados). Fomos intimados diversas vezes a prestar depoimentos no DOPS e na Polícia Federal (aonde chegávamos e não tínhamos certeza quando sairíamos).

Como forma de nos mantermos vivos, musical e politicamente, e ainda sobrevivermos profissionalmente, decidimos trilhar um caminho difícil. Nunca nos policiaríamos. Censores eram os caras, nós éramos intérpretes. Sentíamo-nos como se fôssemos jornalistas musicais de um momento de enormes dificuldades por que passavam o Brasil e os brasileiros. E assim foi. Exercemos nossa profissão, durante décadas, como se andássemos sobre o fio de uma navalha. Não faltaram cortes e cicatrizes, mas sobraram orgulho e a sensação do dever cumprido.

5- A participação do MPB 4 em festivais teve momentos marcantes. Poderia nos contar alguns?

Nós começamos a cantar num momento em que a música era tratada pela televisão com muito mais respeito do que o que a ela é hoje dado pelas emissoras.

Já em 1996, em nossa estréia num festival, conseguimos classificar a música Canção de Não Cantar, de Sérgio Bittencourt, em 4° lugar. No ano seguinte, cantamos Roda Viva, junto com Chico Buarque (3° lugar) e, neste mesmo festival, ainda chegamos em 6° lugar com o frevo Gabriela, de Chico Maranhão. Depois, uma seqüência infindável de participações, não só nos festivais da Record, mas também em tantos outros que surgiram: Bienal do Samba; Festival Internacional da Canção Popular, da TV Globo; Festival Universitário e tantos outros.

Naquele momento, principalmente a TV Record, de Paulo Machado de Carvalho, via na música um bom negócio, uma maneira de faturar e fazer seus negócios progredirem. Assim, diariamente, no horário nobre, havia um musical: O Fino da Bossa; Pra Ver A Banda Passar (com Chico Buarque, Nara Leão e MPB4); Bossaudade (com Elizeth Cardoso e Ciro Monteiro; Show em Si...monal (com Wilson Simonal); Jovem Guarda (com Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa e outros).

Os festivais eram, então, apenas uma decorrência de uma política de programação em que a música era o ponto alto. Os festivais lançavam as músicas e os programas diários tratavam de perpetuá-las no coração e na alma dos telespectadores. A audiência da final de um dos festivais da Record era, algumas vezes, superior a que hoje o Ibope registra no último capítulo de uma novela das oito, da TV Globo.

6- Conte-nos sobre algumas experiências do Grupo no exterior.

Foram tão poucas, Bel... Quase todas com Chico Buarque: Roma, várias cidades de Portugal e da Argentina e Cuba. E, Junto com o Quarteto em Cy e Milton Nascimento, Punta Del Leste. É como o Magro costuma brincar na apresentação de nosso show “MPB4 em Recital”: “Estamos chegando aqui, vindos de uma excursão vitoriosa por várias cidades do mundo, todas elas aqui no Brasil, mesmo...”
7- Que músicas considera as mais marcantes do Grupo? "Amigo é pra essas coisas" seria uma espécie de marca registrada?


Amigo é pra essas coisas, sem dúvida, é a nossa cara. Tem também Roda Viva, Vira Virou, O Pato etc.

8- Quais os compositores mais cantados pelo Grupo?

Chico Buarque, Tom Jobim, Milton Nascimento, Noel Rosa, Ivan Lins, Djavan, foram compositores muito gravados por nós. Inclusive, os homenageamos com CDs dedicados à suas obras. Gravamos bastante coisa também de João Bosco e Aldir Blanc, muito Paulo César Pinheiro, Gonzaguinha etc. etc.

9- Qual a importância de Chico Buarque na trajetória do MPB 4?

Chico começou sua vida profissional, justamente quando começávamos a nossa. Antes de trabalharmos juntos, ficamos muito amigos. Amigos de copo, de ir à praia e ao Maracanã. Amigos de jogar futebol. Estávamos sempre juntos. Não raro, éramos os primeiros a ouvir a música que acabara de ser composta. Bons tempos, hein!? Num determinado momento da carreira dele, todo show que ele fazia nós estávamos juntos com ele. Hoje, profissionalmente, estamos distantes, mas a admiração que sinto por sua personalidade e musicalidade só faz crescer.

10- Pode nos contar como ocorreu a inclusão do grupo no Guiness Book?

Foi um processo que demandou a apresentação de documentos que comprovassem a nossa longevidade como quarteto vocal que até então nunca trocara um de seus integrantes e também sem nunca ter interrompido a carreira. Conferidos os documentos pela editora responsável pela sua edição, e só a partir daí, fomos incluídos na edição brasileira do Guiness.

11- O MPB 4 tem por estilo o bom gosto de seu repertório, nunca se prendeu a modismo, sempre apresentando o melhor em matéria de música. Como vê o cenário atual do país em relação à música?

O “cenário atual do país em relação à música” não é dos melhores, não. Apesar de continuar aparecendo dezenas de talentos, eles ficam segregados a um gueto, o que dá a falsa impressão de que não há renovação na música brasileira atual. Há sim! O que existe é aquela história do cachorro correndo atrás do rabo: as gravadoras afirmam que não gravam os novos compositores ou os novos cantores ou os novos instrumentistas porque as rádios não querem tocá-los; as rádios respondem que não os tocam porque eles não têm discos para serem tocados e se não têm discos, o público não os conhece; as televisões, por seu lado, insistem em dizer que eles não poderão aparecer em seus raros programas musicais, enquanto não tiverem um disco que seja tocado pelas rádios.
Se um Chico Buarque surgisse hoje, certamente ele não conseguiria mostrar seu trabalho ao grande e respeitável público. Nem Elis Regina! Nem Tom Jobim! Nem Villa Lobos! Nem Baden Powell...

12- O que poderia ser feito para que o público tomasse conhecimento dos novos valores musicais, visto que muita coisa sem qualidade tem amplo espaço na mídia?

Tem de haver uma mudança radical na mentalidade daqueles que comandam a chamada indústria de entretenimento. A mídia tem que acreditar que música é um produto rentável, um produto que dá lucro.

E os músicos precisam acreditar mais em si próprios e passarem a reclamar menos e trabalhar mais. Cada um tem de ser dono do próprio destino. Traçar suas metas e ir à luta! Os músicos devem ter nítida a necessidade e a possibilidade de fazerem valer a força do seu trabalho, a força da música que é a maior manifestação popular da Cultura Brasileira. Para reclamar existem os mecanismos e os fóruns cabíveis para tanto, cabe aos músicos delegarem e apoiarem os que podem representá-los digna e honestamente, e se dedicarem com afinco ao ofício de criar beleza com seu talento musical.

13 - Poderia citar alguns bons compositores da nova geração?

Existe uma legião de excelentes compositores que poderiam ser citados como pertencentes à nova geração, apesar de eles, em sua maioria, estarem na estrada faz tempo. Aqui, cito de cabeça, sem uma pesquisa mais aprofundada, o que aumentaria a lista imensamente, alguns poucos exemplos: Celso Viáfora, Paulinho Moska, Vicente Barreto, Zeca Baleiro, Jean Garfunkel, Pedro Luiz, Zélia Duncan, Cássia Eller etc. etc.

14- Fale-nos sobre seus projetos literários.

Eu tenho um romance, “Flopt”, escrito para o público juvenil, que está na Editora Ática para ser avaliado. E tenho escrito um livro de contos infanto-juvenis, que tem como título provisório “As Histórias de Zé Maria – um menino que sabe muitas coisas” e que trará encartado um CD solo a ser gravado por mim. Este ainda está aguardando, esperando o momento para ir às editoras.

15 - Como vai o MPB 4, onde tem se apresentado e quais são os novos projetos?

Neste momento, enquanto continuamos a nos apresentar em várias partes do mundo, todas elas aqui no Brasil, mesmo, com o nosso “MPB4 em recital”, onde cantamos as músicas que mais marcaram a nossa carreira de quase 40 anos.

Estamos ensaiando quase diariamente na elaboração de um show previsto para acontecer em julho. Este show, dirigido por Túlio Feliciano, será gravado e se transformará no nosso primeiro DVD. Convidamos diversos amigos, grandes nomes da música brasileira, colegas que admiramos e respeitamos, para que dividam o palco com a gente. Estão confirmados: Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Quarteto em Cy, Ivan Lins, João Bosco, Dona Ivone Lara, Ivete Sangalo, Elton Medeiros e Caubi Peixoto, ufa!! Dá até vontade de deixar este time maravilhoso no palco e a gente se sentar na platéia para ouvi-los e aplaudi-los.
Mas, para variar, as dificuldades para que a festa possa acontecer são grandes. Estamos numa batalha insana por patrocínio. Existem algumas possibilidades muito bem encaminhadas. Resta esperar. E torcer. E trabalhar... Muito!



Belvedere Bruno é cronista
Niterói - RJ

domingo, abril 29, 2012


A ruptura dos nós



Belvedere Bruno


    Quando me dispus a romper os nós que me atavam a um universo frágil e vazio, senti que a tarefa seria hercúlea. Não me acovardei. Foi como se montasse um cavalo alado e vislumbrasse paisagens que certamente reformulariam  o roteiro de minha existência.
   Deixei tudo para trás, não me importando se em meu ato havia   ingratidão, frieza ou maldade. Dispensei autojulgamentos. Transformação era o que desejava,não o prejuízo de quem quer que fosse.Fui taxada como adesagregadora de lar.Logo  eu, que sempre fui a boazinha, acalmando ânimos,aparando  arestas... Cansei!
  Saí do apartamento, deixei livre meu marido, pedi aos filhos que tomassem seu rumo.Queria viver a minha história, não mais a deles.
  Comprei um chalé na serra e  nunca senti  vontade de enviar endereço a ninguém. Risquei da agenda todos os contatos. Rompi com o exterior, estafante em sua mesmice. Sinto o ar puro, o aroma desse verde sem fim. Explosão de plenitude.
  Que satisfação cortar minha cabeleira e abolir tinturas! Dar um basta aos salões, academias, shoppings! Caminhar sem preocupações, exercitando livremente o direito de estar em paz comigo mesma.
  Como prezo a liberdade!  Ler, escrever bobagens, não pensar no amanhã! Nenhuma saudade do passado. Não me lembro de coisas nem pessoas. Sempre tive certeza de que esse negócio de amor materno era mito, daí ter sido fácil, também, desvencilhar-me de meus filhos. Marido é como objeto, que permanece ao nosso lado enquanto tem função definida. Lamento apenas o tempo que perdi.   Serei, no íntimo, uma pessoa fria, sem vínculos afetivos? Não sei, nem quero analisar o fato. Estou feliz como nunca estive em minha vida. Não é a felicidade a meta do ser humano?
      Se sinto falta de amor? O amor está no ar, é só questão de compreender que não é imprescindível a tão propalada simbiose.
      Hum... a campainha está tocando. Que maravilha sempre saber quem é! A tal estabilidade que afaga, diferente daquela que esmaga. Hoje, celebraremos cinco anos da ruptura dos nós, que deu origem a um viver pleno de delícias!

quinta-feira, abril 05, 2012

Teria congelado a alegria dentro das fotos dos seus inúmeros porta-retratos?


O derramar  de tristezas



Belvedere Bruno





      Norma não nutria expectativas em relação à vida após inesperada separação. De nada adiantava lhe falar sobre possibilidades. O que desejava era a volta de Felipe. O casamento durara exatos 25 anos, comemorados com festa em prestigiado clube da cidade. Uma noite, ele, abruptamente, disse-lhe que não havia nada mais que justificasse a relação.

     Norma era atriz e escritora e, por conta da separação, abandonara ambas as atividades. Aos que perguntavam sobre a falta de uma reação mais condizente com uma pessoa de seu nível, ela dizia que, se escrevesse, derramaria tristezas. Faltavam-lhe alvoroços. Sobravam melancolias.

    Nuvens cinzas e espessas acentuavam sua sensação de desviver. Catava seus cacos, tentando  não  se despedaçar em meio à agonia. Se tentasse encenar, tudo soaria dramático demais.

Teria congelado a alegria dentro das fotos dos seus inúmeros porta-retratos?

     O som de um piano chegava até ela. Melodia de um tempo de quaresmeiras, doces colheitas, ânsias de paixão. Cores. Hoje, sua vida era um filme noir. Lágrimas, partidas e saudades.

       Da janela, observa um  navio que  desliza sobre o oceano. ─ Decerto carrega milhares de ilusões. Quisera ser uma das passageiras! - reflete.

        ─  Haveria, ainda, esperança?- indaga a si mesma, ao mesmo tempo que balança a cabeça negativamente. Com um copo de uísque na mão, constata que sua única certeza é quanto à fidelidade do álcool.

   Consciente de que os dias passarão e que não haverá mudança no cenário emocional, esfrega as mãos nervosamente, vai à janela e cai num choro convulso, murmurando: ─ Quisera, ao menos, voltar a sonhar colorido!

domingo, março 25, 2012

[Dedicado a Juslei Bruno Barreiros]


O Rito


Que possamos entender o que existe nas entrelinhas da vida.
 
 Belvedere Bruno



    Havia a espera. Rito de celebração da vida. Noventa  anos de Henrique Júnior.  Todos  aguardavam com ansiedade as surpresas prometidas pelo excêntrico membro da família. Sentada no sofá, admirava a antiga taça de cristal enquanto sorvia meu vinho branco. Os convidados chegavam sem que o  aniversariante desse o ar da graça. Senti um quê de ansiedade por parte deles, mas permaneci no meu estado de calmaria. Algumas horas depois, ele surgiu para recepcionar  cerca de sessenta pessoas.  Parecia um lorde! Continuei bebericando meu vinho, por sinal, de excelente safra. Aos poucos, a casa parecia pequena para tantos convidados, mas, em se tratando de Henrique, isso era previsível, pois contava com a rua para extensão da festa, como sempre!

    Após algumas taças, percorri toda a casa,  abri uma a uma as portas dos quartos, mexi nos guardados de vovó, bisa e vovô. Não sei como aquele tercinho de bisa ainda resistia! Abri uma sacola de feltro vermelha, amarrada com fita amarela de gorgurão. Havia dezenas de rolos de linhas, sianinhas e  rendas, entre outras coisas. Peguei alguns  trabalhos que vovó não teve paciência para terminar. Eram obras-primas, quase relíquias, mas eu profanei o santuário. De vovô, peguei a caneta  dourada e tentei escrever alguma coisa, porém estava seca, assim como algumas folhas de plantas que vi marcando páginas ao folhear sua Bíblia Sagrada.

     Remexi em tudo: coisas e sentimentos.  Rememorei festas, ouvi canções de outras eras, palavras de amor, ódio, paixão.  Quanta vivência naquela família!  Casamentos, separações , lágrimas, traições, partidas...

     O tempo ia passando e mais eu mergulhava naquele mundo, buscando coisas, pessoas, encantos, surpresas. Contudo, o que eu encontrava, de fato, era uma saudade sem fim.

     Saí daquele estado na hora em que ouvi o início do Parabéns a você. Parecia que tudo estava perfeito. Estranho, mas jurava ouvir risadas até dos nossos saudosos   “ausentes”.  Estaria o vinho alterando meu estado de consciência?

     Que raiva senti quando tive a certeza de que você não havia confirmado, pela primeira vez na vida, sua presença em evento familiar de tamanho  porte. Não te perdoo, nem agora nem em outra vida. Nosso  próximo encontro será pura  negociação. Terá que me convencer, de uma vez por todas, que tinha sérias razões para não celebrar os noventa anos de seu irmão mais velho, aquele pelo qual seu coração sempre pulsara mais forte.

     Sem você, nenhuma festa tem cor, sabor, graça. Falta a melodia. Nem o melhor vinho branco  do mundo me traz a alegria e a luz que sua presença sempre trouxe à minha vida.

    Estamos, no momento, “ de mal”, assim como ficávamos quando crianças. E ainda “torcendo os dedos”, lembra? Espero, algum dia, em um porto seguro, fazermos  as pazes e trocarmos  aqueles dois beijinhos estalados. Decerto sentiremos o mesmo aroma de alfazema no ar...